Nos últimos dias, temos visto uma relação diplomática conturbada entre Brasil e os EUA, criando tensão entre as nações. Essa tensão cresceu ainda mais depois da eleição do atual presidente americano Donald Trump, em novembro de 2024. O presidente Trump adotou, nesse segundo mandato, uma política ainda mais protecionista em relação a todas as potencias amigas e adversárias, se utilizando, principalmente, de tarifas comerciais para forçar negociações com os países. Neste mês de julho de 2025, reuniu-se no Brasil a cúpula dos BRICS, um bloco econômico composto, principalmente, por Brasil, China, Rússia, Índia e África do Sul. Nesta cúpula, foram tratados diversos temas de suma importância ao bloco, mas também, foi tratado temas extremamente sensíveis aos Estados Unidos, como, por exemplo, a hegemonia do dólar como moeda para transações internacionais, aonde o atual presidente do Brasil, Lula da Silva, declarou que se fazia necessário a criação de uma nova moeda para as transações internas do grupo dos Brics. Isso causou desconforto no presidente Trump, já que os Brics, juntos, possuem mais da metade da população global e quase a metade do PIB mundial e, inevitavelmente, os EUA ver o Brics como uma ameaça ao poder de dominação americano. Trump novamente usou as tarifas como arma de intimidação e acentuou que iria aplicar 10% de tarifas adicionais a todos os países que se aproximarem das políticas dos Brics.
Nesta última semana, no dia 09 de julho, o presidente Trump aplicou uma taxa de 50% de tarifas adicionais ao Brasil e citou, como justificativa, o julgamento do ex presidente Jair Bolsonaro que está respondendo no STF por tentativa de golpe de Estado no ano de 2023. Para Trump, Bolsonaro estaria sofrendo uma perseguição política e, em uma carta enviada ao Brasil, o presidente americano pede pelo fim dessa suposta perseguição. Essas tarifas têm gerado muito debate acerca da economia e da política no Brasil e também nos Estados Unidos. Mas, afinal, seria apenas esse motivo que guia as ações de Trump em relação ao Brasil, ou teria outras causas que o tenha levado a essa aplicação de tarifas? Podemos encontrar essa resposta no passado.
A DOUTRINA MONROE E ÁMERICA LATINA
A doutrina Monroe foi uma série de medidas no âmbito da diplomacia dos Estados Unidos no século XIX, anunciadas pelo presidente americano James Monroe, em 1823. Tendo como principal base a não intervenção na América por parte dos países europeus e o lema “América para os americanos”. Frase hoje utilizada pelo Trump para representar sua política protecionista e de nacionalismo extremo, entretanto, essa frase não pertence a Trump, mas apenas é usada por ele.
Ao mesmo tempo em que a doutrina Monroe defendia a não recolonização europeia na América, ela também serviu de base para o crescimento imperialista dos EUA, principalmente, na América Latina. Essa política deu aos americanos a oportunidade de manter imensa influência nos países latinos, enquanto, aparentava defendê-los dos impérios europeus, dessa forma, foram abertas as portas para o imperialismo americano influenciando de maneira política, econômica e militar os países sobre sua poderosa mão.
Em 1901, o presidente Theodore Rossevelt em discurso, em uma feira em Minnesota, utilizou um provérbio que dizia “com a fala suave e um grande porrete na mão”, e assim, estava lançada a política do Big Stick (grande porrete). Esse método tinha como base a negociação enquanto utilizava da força para pressionar o outro lado, tática que vemos hoje sendo utilizada por Donald Trump no caso das tarifas, e essa estratégia guiou a diplomacia americana desde então.
A doutrina Monroe deu, na concepção dos americanos, a legitimidade para intervir politicamente e militarmente nos país latinos-americanos. Disso podemos tirar como exemplo Cuba, que foi invadida pelos EUA, na administração do presidente Kennedy, em 1960, Cuba estava se alinhando a União Soviética que, nesse momento, estava em guerra indireta com os EUA, momento histórico que ficou conhecido como Guerra fria. Outro exemplo que podemos citar é o próprio Brasil que teve fortes empréstimos de dólar durante todo o século XX, que aumentou a dívida externa do país, dando aos americanos, muita influência econômica. E em 1964, deu apoio político e militar ao golpe militar no Brasil, golpe que derrubou o governo democraticamente eleito de Jango e instaurou um regime militar que durou de 1964 a 1985, no contexto da guerra fria.
Nesse ano de 2025, o secretário de Estado americano Marco Rubio, em uma entrevista dada a imprensa americana, ele citou que “precisamos recuperar nosso quintal”, ao citar isso, ele se refere a América Latina que tem se distanciado dos Estados Unidos e se aproximando mais da China, país que hoje é o maior rival político, econômico e militar dos americanos, numa espécie de Guerra fria do século XXI. O crescimento da China tem ameaçado o poder mundial dos EUA em todo o globo com avanços políticos e econômico dos chineses, principalmente, com o BRICS. E o Brasil tem se tornado um agente ativo do jogo da geopolítica mundial ao lado da China, neste governo de Lula e Lula tem se distanciado mais da influência americana, o que desperta rivalidades com Trump que, por sua vez, ver o ex-presidente Bolsonaro como um aliado fiel que abriria novamente as portas para a intervenção americana no brasil. A Doutrina Monroe está mais ativa que nunca neste governo de Trump o que explica, historicamente, as tarifas contra o Brasil juntamente ao seu apoio incondicional a Jair Bolsonaro, que a Trump agradaria muito a sua volta ao executivo brasileiro. Dessa forma, prova-se mais uma vez, que compreender o passado, nos faz entender o presente.
Escrito por Felipe Thiago Ferreira da Silva - 14/07/2025.
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