sábado, 20 de janeiro de 2024

CERCA DE 40% DOS MÉDICOS DO RN RELATAM SINTOMAS DE ANSIEDADE E DEPRESSÃO

O enfrentamento de jornadas prolongadas de trabalho, os gargalos na infraestrutura da saúde pública e a fragilidade das políticas voltadas ao bem-estar profissional integram uma cadeia com impacto direto na saúde mental dos médicos. No Rio Grande do Norte, onde o cenário negativo soma-se a uma realidade nacional, cerca de 30% a 40% desses profissionais já relataram ter sofrido com sintomas de ansiedade ou depressão. É o que apontam dados preliminares de pesquisa realizada pelo Conselho Regional de Medicina do Estado (Cremern), de março a abril de 2023, cedidos à reportagem da TRIBUNA DO NORTE. A previsão é que o levantamento oficial seja lançado ainda no primeiro semestre deste ano.

No total, o estudo ouviu 489 médicos das redes de saúde pública e privada. De acordo com a presidente da Câmara Técnica de Psiquiatria do Cremern, a médica Ana Lígia Nascimento, embora o levantamento ainda esteja em fase de consolidação e os relatos não sejam necessariamente de diagnósticos, boa parte dos entrevistados afirmam ter tido sintomas de ansiedade e depressão em algum momento na carreira. Ao todo, o Rio Grande do Norte conta com 13.069 médicos registrados e 8.574 ativos.

Ao observar os fatores que contribuem para o adoecimento dos profissionais, seja no Estado, ou em uma maior abrangência, ela chama atenção para a pesquisa realizada pelo Research Center da Afya. Conforme apontam os resultados, o deslocamento intermunicipal para quem atua em mais de um hospital, a frustração com as condições de trabalho, acrescida da sobrecarga de problemas do sistema de saúde, favorecem o surgimento de casos de burnout, ansiedade e depressão nos profissionais. Em média, 2 a cada 3 médicos do país convivem com a síndrome do Burnout, caracterizada pela exaustão extrema, estresse e esgotamento físico devido ao desgaste no trabalho.

“Nós temos alguns médicos fixos no interior, mas não há uma carreira de Estado para efetivar uma programação diferente da que temos hoje, a fim de favorecer a fixação dos profissionais nos municípios a partir de um concurso e com exclusividade” complementa a médica Ana Lígia Nascimento, para quem a medida é uma das principais demandas para melhorar a vivência dos médicos e estabelecer vínculos com a localidade. Aliado a isso, a legislação que regulamenta o trabalho da categoria ainda está vulnerável.

De acordo com o entendimento do Superior Tribunal de Justiça (STJ), a jornada de trabalho no serviço público deve estar limitada a 60h. No Rio Grande do Norte, especialmente, o Regime Jurídico Único do Estado, complementado pelos Planos de Cargos e Carreira da Saúde e dos Médicos de cada categoria (ex: médicos de Natal), é o responsável por regulamentar a carga horária no exercício da medicina. Na prática, contudo, a presidente da Câmara Técnica de Psiquiatria do Cremern ressalta que muitos profissionais que atuam na rede privada e outros que abarcam serviços em consonância com o vínculo na rede pública, acabam prolongando as horas de atendimento.

Com uma análise semelhante, o presidente do Sindicato dos Médicos do Estado (Sinmed/ RN), o médico anestesiologista Geraldo Ferreira, aponta que o trabalho dos profissionais intermediado por empresas tem suprimido direitos e prejudicado a qualidade de vida da categoria. “Tudo isso, aliado a uma carga horária excessiva e uma cobrança da sociedade, tornam o médico um viciado em trabalho. O trabalho, [por sua vez], está precarizado e a remuneração tem caído”, defende. Em boa parte dos hospitais, denuncia, os profissionais precisam atuar por meio do ‘improviso’ por conta da falta de estrutura e insumos.

O médico psiquiatra Ernane Pinheiro, presidente da Associação Norte-Rio Grandense de Psiquiatria (ANP/RN), vai um pouco mais além e observa que, fora as condições de trabalho, o adoecimento mental dos médicos acompanha uma mudança de estilo de vida da sociedade. Em outras palavras, a rotina da categoria é marcada pela ausência de exercícios físicos, poucas horas de sono e falta de sociabilidade. “A origem do adoecimento é multifatorial. Nunca é um fator só, ou dois”, destaca.

Fonte Tribuna do Norte 

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