O aviso da telefonista do postinho da extinta Telern, no município de Campo Redondo (RN), não foi levado a sério de imediato. O fato era tão extraordinário, que parecia um trote. E a data, 1º de abril, corroborava para as pessoas permanecerem incrédulas quando Maria de Fátima da Silva lhes telefonava alertando que a barragem do açude iria romper e que a população da vizinha Santa Cruz estaria em risco.
Maria de Fátima, hoje professora aposentada, naquele dia, em 1981, telefonou insistentemente para várias pessoas, que continuavam sem acreditar no seu aviso. Ela foi alertada por pescadores e queria fazer o aviso chegar até o prefeito de Santa Cruz. Até que teve a ideia de falar com o monsenhor Raimundo, que a princípio também não acreditou. Em seguida, um carro de som foi contratado para alertar os moradores sobre os riscos e o seu gesto, considerado heróico, salvou a vida de mais de mil pessoas.
O aviso sobre o risco de arrombamento do açude Mãe D’Água lhe foi dado por pescadores. A água desembocaria no Rio Trairi, afetando o açude Santa Cruz. Trinta anos após o episódio, Maria de Fátima foi homenageada na Assembleia Legislativa pelo seu feito.
Três horas depois do aviso do carro de som, o município foi devastado pela água. Sua força destruiu 1.044 casas, mas apenas um óbito foi registrado. As cheias daquele ano e o blecaute foram repetidamente noticiados pela Tribuna do Norte.
Entre os muitos estragos das cheias de 1981 no RN, um foi o colapso na rede de energia elétrica. Apagão, blecaute, era a forma como a Tribuna e os demais jornais se reportavam ao episódio. O caos foi tanto, que o então governador Lavoisier Maia decretou estado de calamidade pública. Ele ameaçou confiscar mercadorias de comerciantes que abusassem dos preços dos gêneros alimentícios durante o período da crise e solicitou congelamento dos preços por 15 dias e foi atendido pelos supermercados.
Na edição de 8 de abril, uma semana após o arrombamento do açude, o jornal descrevia a situação de Santa Cruz como “uma verdadeira calamidade pública, comparada a um pesado bombardeio que deixou casas totalmente destruídas e a população em estado de desespero”. A cena era de muitas pessoas chorando entre os escombros na tentativa de encontrar algum móvel ou utensílio soterrado. Após o rompimento do açude, várias famílias perderam suas moradias e ficaram alojadas em acampamentos improvisados, recebendo gêneros alimentícios e algum auxílio emergencial.
Uma estimativa da Sudene apontava, na moeda da época, para 400 milhões de cruzeiros em prejuízo para o RN devido às enchentes. A Caern e a Cosern juntas perderam Cr$ 137 milhões, na moeda da época.
Em Natal a ausência de energia por quatro dias seguidos causou um colapso nos serviços essenciais. A TN noticiou que os hospitais tiveram dificuldades para manter seus serviços devido à falta de eletricidade e precisaram recorrer a geradores, que nem sempre foram suficientes para suprir as necessidades.
Entre os auxílios às vítimas de Santa Cruz, o Banco Nacional da Habitação (BNH) forneceu 500 barracas de lona e 1 mil colchões à Sudene para as famílias desabrigadas. Trinta toneladas de gêneros alimentícios, roupas e calçados foram enviados e a prefeitura de Natal deslocou uma equipe de trabalhadores para auxiliar às vítimas.
Fonte Tribuna do Norte
Nenhum comentário:
Postar um comentário