Ícaro Carvalho - Repórter
“Chama o Dasaev que não dá pra o Rafael continuar”. Há três anos, o goleiro Rafael, hoje defendendo o ABC, então titular do Globo, machucou o ombro e precisou deixar o campo com apenas 8 minutos de jogo. Era o jogo da volta entre Globo e URT/MG, pelas quartas de final da Série D. O goleiro reserva Dasaev, com nome inspirado no arqueiro ídolo russo, entrou, fez defesas importantes e após o jogo, que terminou 1x0, pegou duas penalidades e levou o Globo à Série C do Brasileiro pela primeira vez. Herói do jogo, Dasaev diz que a data segue sendo inesquecível. Passados três anos, Dasaev trocou as luvas e as chuteiras por capacete, canetas, cadernos e esquadros. Ele está terminando o curso de Engenharia Civil, uma profissão que sempre sonhou, mas não descarta o retorno aos gramados e sonha em voltar a jogar futebol.
Créditos: Alex Régis
Dasaev tornou-se estudante de engenharia, mas não descarta retorno aos gramados
Três anos após o acesso inédito, o Globo vai escrevendo mais uma bonito capítulo em sua curta existência e pode conseguir a façanha de ser o primeiro clube do Rio Grande do Norte a subir de divisão na Série D por duas vezes consecutivas. No último final de semana, por exemplo, eliminou o ABC em pleno Frasqueirão. Em 2017, por sua vez, o Globo era um time recheado de atletas das categorias de base e jovens promessas, incluindo Dasaev, que chegou ao clube em 2016. Reserva do ídolo Rafael, atual goleiro do ABC, ele entrou em campo, fechou o gol para garantir o placar de 1 a 0 e pegou duas penalidades nas cobranças, uma de Fábio Alves e outra de Marques.
“Eu vi ali uma oportunidade ímpar. Sempre fui muito tranquilo com tudo que fiz. Naquele momento enxerguei a chance. Vinha trabalhando para quando a oportunidade aparecesse e aquela foi a hora. A frieza, sabendo que tinha minha competência. Entrei em campo tranquilo e fiz meu papel. A gente trabalha pra isso, para quando a chance chegar, principalmente goleiro, quando nunca se espera. Eu estava pronto. Foi resultado de trabalho. Fomos felizes na situação e foi tudo friamente calculado, digamos assim. Estava pronto e apto ”, comenta o goleiro, em entrevista à TRIBUNA DO NORTE.
Créditos: CedidaRenatinho Potiguar, hoje treinador do Globo, era companheiro de Dasaev no acesso em 2017
Atualmente com 27 anos, Dasaev acabou deixando o Globo em 2018 após não ter o contrato renovado com a Águia de Ceará Mirim. Ele comenta não ter mágoas da equipe, mas relembra que queria ter seu vínculo ampliado à época. Recentemente, inclusive, ele chegou a visitar as instalações do Estádio Manoel Dantas Barretto, o Barrettão, onde o Globo treina e manda seus jogos. Reencontrou amigos, um deles, em especial, seu colega de equipe em 2017, Renatinho Potiguar, atual treinador do Globo.
“Tenho muitos amigos no Globo, pessoal da comissão técnica, inclusive o Renatinho. O goleiro Rodrigo Carvalho, por exemplo, estivemos junto no Náutico, ele profissional, eu na base. Tenho um carinho enorme, torço muito pelos meus amigos porque sei da dificuldade que é, às vezes a gente de fora não sabe como como é. Continuo acompanhando, torcendo pelo Globo. Acho que devemos ser gratos independente de qualquer coisa, tenho muita gratidão. Prefiro lembrar do que aconteceu de bom. Acredito que há profissionais competentes no Globo, eles estão numa fase boa, começaram a ascender na reta final e tem tudo sim para subir”, cita Dasaev.
Parado desde 2018, Dasaev, que naturalmente é um “fecha as portas” para os atacantes adversários, não esconde o desejo de voltar a jogar e fala sobre as possibilidades.
“Confesso que sinto muita falta da rotina do futebol, por completo, da adrenalina, de tudo. Eu particularmente ainda acredito que, houveram situações e posições que ainda não vivi no futebol. Reconheço, pelo tempo que estou parado, há a improbabilidade. Mas não descarto um retorno ao futebol. Pode ser que aconteça. Se aparecer uma oportunidade considerável, pode ser que dê certo”, acrescenta.
Nos últimos anos, Dasaev entrou no curso de Engenharia Civil na Universidade Potiguar (UnP) e já está próximo de acabar a graduação. Ele está no 9° período e intercala sua vida entre a cidade de Campo Redondo, onde nasceu, e Natal, onde estuda. Mesmo com a pandemia de coronavírus, ele comenta que segue firme e forte nos estudos e já possui planos para o futuro na engenharia junto a colegas de faculdade. A expectativa é terminar o curso no final de 2021.
Créditos: Adriano Abreu
O abraço entre Dasaev (e) e Rafael (d); mesmo na ausência do titular, coube ao jovem goleiro garantir o acesso do Globo
“Antes mesmo de me tornar jogador era o que eu tinha em mente. Na época da escola já me identificava com as disciplinas de exatas e era o que eu pensava, essa área de engenharia. Mas desde pequeno era um sonho me tornar algo da parte de engenharia. Estou seguindo nessa, que digamos, talvez seja o plano B. O plano A era o futebol”, comentou.
Por escolha de nome, pai quebrou trato com a mãe
Quem acompanha futebol europeu sabe que um dos maiores goleiros da história do futebol russo se chama Rinat Dasayev, um dos principais nomes da extinta seleção da União Soviética, ídolo do Spartak Moscou e goleiro titular da Seleção Soviética nas Copas de 1982 e 1986, na Olimpíada de 1980 (a qual ganhou o bronze). Junto de Lev Yashin, considerado por muitos o melhor goleiro da história do futebol, Dasayev acabou sendo inspiração para o pai, Sílvio Freitas, na escolha do nome do filho.
Quando nasceu, em 25 de março de 1993, o combinado entre o pai, motorista de ambulância, e a mãe Aracleide Freitas, professora, era de que, a partir do sexo do filho, um dos dois iria escolher o nome da criança. O pai, no entanto, “quebrou” o trato e escolheu o nome de Dasaev, que curiosamente, anos depois, se tornaria goleiro e herói improvável do acesso que tornou o Globo conhecido nacionalmente.
“Meu pai sempre foi muito fã desse goleiro. Eles combinaram: se fosse menina, quem daria o nome seria meu pai. Se fosse menino, seria ela. Estava tudo certo e seria João Antônio. Meu pai deu um sumiço na minha mãe, foi no cartório e colocou Dasaev Matheus”, relembra.
Créditos: Adriano Abreu
Dasaev é natural de Campo Redondo, cidade do Seridó potiguar que fica a 135 km da capital natal. Ele deu seus primeiros passos no futebol em um time localizado na cidade vizinha, Currais Novos. Foi no Potyguar, em 2009, que o goleiro com nome inspirado no ídolo da União Soviética fez suas primeiras defesas. De lá passou ainda pelo Gama, Brasiliense, Náutico, Pesqueira/PE e Guarany de Sobral, alguns deles, em sua maioria, nas categorias abaixo da profissional. Sobre a carreira, Dasaev é grato a tudo que lhe aconteceu e comenta que, até hoje, muitos torcedores entram em contato para agradecer pelo feito em 2017.
“Depois da postagem do Globo, muitos torcedores vieram no direct, comentaram a foto, me seguiram. Foi uma situação bacana, pessoal é muito grato pelo que aconteceu. Vi aquilo e me deu uma saudade de tudo que vivi. Todos são gratos e felizes. Foi uma situação ímpar na minha vida e na deles também”, acrescenta.
Créditos: Adriano Abreu
Dasaev brilhou ao defender duas penalidades nas quartas de final que levou o Globo à Série C
Fonte Tribuna do Norte
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